A partir da observação que fiz das obras de Torie Begg, cheguei a uma conclusão. Reparei que o assunto estava na objectificação da pintura, onde havia uma recusa da representação na superfície do plano da pintura. Toda a atenção residia, portanto, nos bordos da imagem. A tinta escorrida que se apresentava para além dos bordos, é enfatizada pela ausência de assunto na superfície do plano da pintura. Perante isto, entendi que a tinta se queria autonomizar do suporte, e concluí a minha interpretação com uma questão: "Quais serão os requisitos mínimos para uma pintura?", ao que respondi "Se a tinta se quer autonomizar do suporte, é porque a tinta se mostra, de facto e devido a esta situação, como um elemento que se pretende desprender dos conceitos canónicos de uma técnica preza a um academismo."
À medida que na introdução era feita uma relação do trabalho de uma artista com o meu trabalho, iam-se revelando os temas da recusa ao suporte de pintura e da recusa à representação de figuras e de quaisquer fragmentos do visível. Tomei decisões que foram, portanto, reveladoras para o meu trabalho, tais como a de apresentar uma situação de mancha de tinta que parece ter sido acidentalmente deixada cair no espaço. Este aspecto acidental dissocia-se de qualquer intenção de representação. Uma vez que é dado este aspecto acidental, o espectador jamais poderá interpretá-la como se ela tivesse origem num acto propositado, num acto puramente intencional de produzir algo que fosse agradável ao olhar. Estas manchas têm a propriedade de parecer pertencer ao espaço. Parecem ter tido como ponto de origem o espaço onde são apresentadas. Nesta situação não é feita nenhuma invocação de suporte de pintura, porque a mancha afirma-se apenas como uma mancha de tinta proveniente de um acto desprovido de intenções. O suporte de pintura é rejeitado, mas o que passa para o espectador não é essa recusa. Na imediatez da apreensão da mancha, o espectador sente o inesperado, e o surpreso, por causa do aspecto acidental da mancha e da relação que ela tem com o espaço. O espaço acaba por ser um elemento muito importante neste projecto. É nele que consigo, de facto, desviar-me de todas as intenções de representação em pintura, partilhando a mesma relação que estava patente nas décadas dos anos 60 e 70 com o minimalismo e o conceptualismo americanos. A relação obra – espaço, é tomada, agora neste momento, como a matriz da experimentação no meu trabalho.
